A noite Frank acordou de sobressalto. Estava inquieto, queria sair para ver seu amigo e ver se ele lhe respondia algo mais. Viu os olhos de sua mãe abertos...hehehe: always!... passou pela frente dela várias vezes para ver se ela reagia...como ela estava em sono profundo (Frank pode conferir os “Z” dentro das bolhinhas que saiam dela) ele decidiu sair. Foi até o lugar onde deixara seu amigo e lá o vira – na penumbra, de lado, escorado a uma pedra. Achou estranho, mas se aproximou (o que controlava Frank naquele momento era a curiosidade). O pequeno híbrido Pseudofishes frankstain tinha tantas perguntas: “Como assim não estamos num aquário de ciclídeos africanos?”, “Como assim 'mais da metade dos peixes daqui têm da África apenas remotos genes'? O que são remotos genes?”...não dava para esperar uma noite inteira para saber...simplesmente não dava... “ - Oi Notatus...” - sussurrou, ainda olhando para trás para ver se ninguém o vira. “ - Oi pequeno.” - respondeu Mr. Notatus meio rouco, mas se recompondo ao ver que recebia tão ilustre visita - “Não consegues dormir?” “ - Não, a bomba faz muito barulho.” Mr. Notatus riu-se, pois sabia qual era o verdadeiro motivo da visita sorrateira de Frank. “ - Notatus...” - Frank não perdia tempo - “...tenho uma dúvida...O que é exatamente um aquário de ciclídeos africanos?” “ - Hehehe meu pequeno, ficaste com a dáfnia atrás da “orelha” devido ao que eu disse, não? Achei que tivesses esquecido, mas não...muito bom meu jovem...” - orgulhava-se o professor - “Em primeiro lugar, não existe um só tipo de aquário que sirva para todos os ciclídeos africanos. Existem ciclídeos africanos de rio, com parâmetros próximos dos rios amazônicos, existem os de lago, com diversos tipos de pH, desde o ácido ao extremo alcalino. Primeiro a gente conhece as espécies, depois a gente monta o aquário...assim deveriam ser os humanos que cuidam (ou tentam cuidar) de nós...” - Notatus parou, olhou para o pupilo, viu que ele estava entendendo e continuou - “De repente, aproveitando o fato de que nós ciclídeos ocorremos na Ásia, América e África, o dono deste aquário acha que a letra 'A', de CA, significa 'All', isto é, 'todos'.” “ - Hihihihi...” - Frank adorava o sarcasmo de Notatus - “O que são remotos genes?” - porém, para Frank, não havia tempo a perder... “ - Genes são como livros dentro da gente que guardam toda a informação, como por exemplo o cuidado que sua mãe tem contigo Frank, e na hora que a gente é feito eles que coordenam o trabalho de formação do peixe, como o tamanho de nossas nadadeiras, dos ossos, nossa cor e muito mais coisa. Os híbridos podem apresentar características intermediárias de um peixe e de outro. Por isso Frank, tu podes ter genes de cada um dos teus pais e também dos teus avós, assim por diante, que podem se manifestar mais forte ou mais fraco, ou não se manifestar abertamente. O que quis dizer com “remotos” é apenas que nossos parentes africanos são muito distantes, somos muito diferentes deles, embora conservemos algumas características em comum: tipos de ossos, cuidados com a prole, etc.” “ - ohohohoh!!!” - Frank estava pasmo, não sabia nada disso... “ - Nossos ancestrais aprenderam a se reconhecer, formaram populações diferentes e, assim, as espécies. Aí, por meio de muita luta pela sobrevivência, pensaram que seria melhor se fechar e preservar suas espécies, pois cada espécie era uma forma vitoriosa na natureza e eles quiseram assim preservar a vitória.” - Notatus respirou um pouquinho - “É Frank, nossos parentes foram grandes heróis e nós devemos seguir seus passos; infelizmente, poucos sabem disso.” “ - Então, é por não saber, que os ciclídeos se hibridizam, como aqui no aquário?” “ - Mais ou menos amigo Frank, muitos aqui são vítimas. Se o aquário tem condições muito ruins como estas, o hibridismo é favorecido, mesmo entre os remotos genes.”- continua sua explicação, Notatus - “Em condições realmente estressantes como aqui, os peixes perdem a “vontade” de preservar a vitória conquistada no passado, ou seja, preservar os genes puros de sua própria espécie. Lembro que muitos aqui me reclamaram das condições de tonteira e mal-estar...isso tudo favorece a mistura de espécies.” “ - Então nunca serei um vitorioso?” - choraminga Frank. “ - Calma Frank. A natureza fez com que muitos dos nossos hibridizassem e daí surgiram muitas espécies vitoriosas. Quem pode dizer que a espécie Pseudofishes frankstain não pode ser vitoriosa, hein? Ninguém, somente nosso Deus Netuno sabe. E mais, personalidade é algo que levou muitos dos nossos ancestrais à vitória e isso tens de sobra.” - Notatus deu uma tremilicada forte. “ - Então sou um teste ainda...ninguém sabe se a espécie Pseudofishes frankstain vingará, não é isso?” “ - Frank, serei franco contigo...hehehe...rimou...” - Notatus tentava animar Frank - “...sim Frank, é isso. E que isso te sirva de força para que dês tudo de si para constituir uma nova espécie.” “ - Mas eu quero ser de uma espécie vitoriosa Notatus! Não quero ficar sem saber se darei certo ou errado, se terei filhos ou não, se ficarei feio como o papagaio e a flor...” “ - Isso meu pequeno eu te aconselho esquecer e tentar nadar em frente...sempre em frente.” “ - E seu eu namorar uma peixa pura...uma citrinella...aí eu ensino todos os meus filhos a namorar citrinellas pra sempre...até que um dia só tenha genes citrinélicos nos descendentes...aí dá certo né Notatus?” - radiou e brilhou Frank. “ - Como somos amigos Frank e sei que és forte, não vou mentir: uma vez híbrido sempre híbrido.” - as palavras de Notatus murcharam Frank. “ - Meus livros de genes estão todos confusos, não sei nada de nada...” “ - Frank, vamos lá! Dorsal ereta! Ciclídeos em peixês antigos significa 'forte peixe que nada sempre em frente'...nós aprendemos também, não dependemos só dos genes!” - instigava, Notatus - “Meu pai sempre me dizia, 'Notatinho' nunca nade logo abaixo da superfície para que os pássaros não te peguem...assim, aprendi a ser rápido: vou, pego a comida e desço volto bem rápido. Ensinei isso a muitos peixes que ainda hoje vivem!” “ - Vou morder a mão do “Senhor dos Alimentos, da Neve e da Água Fria” quando ele voltar aqui!” - disse o destemido Frank - “Por que ele misturou tantos diferentes de nós aqui, Notatus?” “ - Preguiça? Falta de discernimento? Pura ignorância? Maldade? Ansiedade? Também deixo para Netuno nos responder querido amigo.” Frank bocejou. “ - Tá na hora de voltar pra toca guri...vai lá!” “ - Notatus, gosto muito de você. Você é mais bonito que aquela estrela-do-mar branca e dura ali, só que muito mais legal e viva...” Notatus queria chorar... “ - Então, Frank, sempre que precisares de respostas e não houver ninguém para te responder, imagine uma estrela dessas, com o brilho da luz branca, bem lá na superfície da água...eu saberei que estás perguntando e te responderei aí dentro do teu coração...” Frank gostou da resposta e foi-se deitar, puro (não nos genes), lindo (não na aparência) e vivo (mais do que objetos de enfeite de aquário)...sem saber o que o dia seguinte traria... O final para uma história que fala de um “Aquário de Ciclídeos Africanos” como este já é previsível, eu não precisaria nem de escrevê-lo, pois todos podem imaginar. Nem sempre o mais bonito é o mais forte; nem sempre o que sempre resistiu aguentará a nova mudança; nem sempre o peixe de pH alcalino sobreviverá no pH ácido e vice-versa; nem sempre o Pseudoaquarista sabius que arrisca sabe o que está fazendo. Esta não é uma história de crianças, nem é para elas...pois é dura e não tem graça...ela serve para aqueles que já sabem entender um pouquinho mais das coisas (se você ainda não sabe, está na hora de aprender, de se abrir, de buscar...) Pela manhã, antes que o dorminhoco Frank acordasse, Mr. Notatus fora visto ali escorado na pedra de ontem a noite, inchado, esbranquiçado, ainda no fundo...o que ninguém sabe é que o dono do aquário saíra para um feriado prolongado e que em alguns dias haveria um apagão, o qual afetaria a sua região...como eu disse...o final todos já sabem... Um peixe é uma vida? Estou certo que sim. Vale o preço que pagamos? Certamente que não (mas, em muitos casos, ainda bem que sim...pois há quem tenha pouco dinheiro, mas tenha muito a acrescentar no hobby e à vida) Espero apenas que a sabedoria e o bom-senso que aí existem não morram por maus tratos como Mr. Notatus. Há como aprender, há como fazer diferente (não digo sobre criar novos híbridos e sim fazer em prol do hobby), há como fazer o certo...basta querer que seja assim, basta fazer para que seja assim. Por que o imediatismo do “quero assim e quero agora” prevalece? Por que nos fazemos tão fracos frente a tão banal atitude? Não me torno isento por ter escrito a história de Frank antes de outros, sou um dos que erra também. Para não me passar por hipócrita, digo ainda que sei que o ser humano mata para comer, escava e desmata para construir; sei que alguns alimentam seus peixões com peixinhos...mas no meio disso tudo, além do certo e do errado, do bom e do ruim, ao fim de todas as palavras dessa história, tudo que quero chamar a tona é a palavra: respeito. Para mim, toda essa problemática que levanto acerca do hibridismo se baseia no respeito, pois hibridismo a natureza que é mais sábia já o faz, não é? Sem dar definições ou limites pessoais, quero apenas chamar a reflexão para aquela palavra em negrito ali... A sábia natureza criou, em bilhões de anos, as estações, com épocas de frutos, de brotos, de latência, de espera, de calor. Por que em nossas “instantâneas” vidas achamos que fazer o que quiser a despeito do limite dos outros (da vida; do respeito à vida) é o certo? Vai entender né? Por vezes eu – que escrevo isto – me vejo como “Senhor dos Alimentos, da Neve e da Água Fria”, mas tento sempre ser igual a um híbrido parecido com uma mistura do Frank e do Mr. Notatus, em termos de curiosidade e conhecimento. Qual o meio termo entre querer e respeitar? Eu quero preservar, mas quero ter peixes em meus aquários. Então por que não tratá-lo como um ser vivo? Assim eu tento e mesmo passível de muito erros durante o trajeto, faço o meu melhor (que não é para ser comparativo ao melhor de ninguém). Lembrem-se que o final da história de outros Franks pode ser diferente se as pessoas quiserem... Inté
Fonte: texto adaptado do “Livro do Hibridismo e Respeito em Aquário de CAs: histórias diversas para peixinhos questionadores”
Comentário da revista “Look Like Fish”: “este livro tem sido a solução psicológica para as mães de alevinos híbridos em todos os aquários do mundo” - by Robert Baiacú
Título original do Capítulo: “Relatos verídicos de casos fictícios”
Lingua original: borbulhês
Tradução: Johnny Bravo's Translations Company
Jonnhy Bravo - 2005
Melhor se visto em 1024x768
Ezstyle -Bruno Galhardi -2003- 2007
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Comentários
Muita gente tem de ler esta historia.